quarta-feira, 26 de agosto de 2015

Faxina

Hoje eu joguei o que era seu fora. Aquela camisa velha, seu CD de música alternativa. Joguei fora também tudo que podia me fazer lembrar de você. Fotos, músicas, rasguei os ingressos pro único show que fomos juntos. Queria que fosse fácil te tirar de mim como foi fácil jogar fora todo e qualquer vestígio seu. Depois de quase um mês e com a garrafa de vinho barato vazia jogada no chão do quarto, eu admito: eu gostei de você. Gostei por causa da sua atenção, da sua falta de cobranças e, principalmente, pela sua presença. Talvez seja por isso que sua ausência ainda me magoa tanto. Desculpa por ter caído nessa de gostar de você, mas logo passa. E já não fica nem rancor. Talvez um dia eu consiga olhar pra trás e enxergar algum momento bom, mas por enquanto é só tristeza em cada pedacinho meu.  Ando feito bicho arredio, fugindo dos lugares que você pode estar, fingindo uma alegria que eu sei que não é minha. Mas acho que não chegou a ser paixão. Amor eu tenho certeza que não era. Perdoa se, de fato, te fiz algum mal. Espero, um dia, poder te perdoar também.

quinta-feira, 22 de janeiro de 2015

O despertador tocou quando comecei a pegar no sono. Me revirei na cama. Quando abri os olhos de novo, já estava atrasada. Levei cerca de vinte minutos para encontrar o pé direito do chinelo que, sabe-se lá porquê, tinha parado debaixo da cama. Chegando na cozinha, resolvi tomar um café. Solúvel. Só aí já dava pra ter certeza de quão ruim ia ser o dia. Botei um copo com água na caneca. Peguei o vidro do café. Antes que o microondas avisasse que minha água estava quente, lá estava eu, enchendo um segundo copo de água para fazer café.

Botei o copo num canto. Dei um gole no café e queimei a língua. Mal conseguia falar. Voltei pro quarto para trocar de roupa. Não acho a blusa que queria. Mas vai essa mesmo. Escovando os dentes, derrubo pasta de dente na blusa que já era estepe. Preciso me trocar de novo. O relógio do vizinho desperta. Já deveria estar na rua. Saio correndo para não perder o ônibus. Me senti numa maratona. 

Até que: ops, tinha uma pedra no caminho. CATAPLOFT. Caio com tudo e quando tento me levantar percebo meu pé dói. Devo ter torcido. Antes que eu pudesse olhar, o ônibus chega no ponto. Começo a gritar pro motorista esperar. Vou andando puxando o pé o mais rápido possível. Quando entro no ônibus, ouço alguém resmungar. 

6 da manhã. Ônibus lotado. Parecia não ter lugar nem pra respirar. Depois de quase entrar em luta corporal por espaço, finalmente desce uma multidão e consigo me sentar. Depois de meia hora de dor, poderia examinar meu pé. À essa altura, o inchaço transformou meu pé em um pão. Percebo que fui para o trabalho calçando meus chinelos - pelo menos ia poder falar que é por causado pé torcido. No trabalho ninguém notou minha cara de dor.

Na volta pra casa, mais uma luta por espaço. Só me faltava um engarrafamento. Putz, não falta mais. O tempo foi passando e surgiu aquele sentimento incontrolável: vontade de fazer xixi. Meia hora mais tarde do que deveria, desço do ponto, louca por um banheiro. Logo avisto um sujeito vindo em minha direção. Por alguma razão que até mesmo o diabo deve desconhecer, o dito cujo acha que tem o direito de me chamar de gostosa.

Enfurecida, mostro o dedo do meio. Ele resmunga alguma coisa que, com medo da reação dele, sequer ouvi. Finalmente chego no meu portão. Na porta de casa, aquele habitual medinho de ter perdido a chave e de estar trancada do lado de fora. Acontece umas quatro vezes por semana. Entro correndo em casa.Nessas circunstâncias uma coisa é certa: o banheiro vai estar ocupado.Antes que pudesse bater na porta, a pessoa abre o chuveiro.Me contorço por mais alguns minutos.

Passado o aperto, finalmente poderia comer alguma coisa. Depois de um tempo pensando, me decidi pelo clássico arroz com feijão. Foi aí que descobri que o gás acabou. Achei melhor optar por um biscoitinho - light, integral e sem açúcar- e ir tomar um banho.A água quentinha escorrendo pelo corpo. Ah, poderia ficar ali pra sempre. Isso se o chuveiro não queimasse. Tava ali com shampoo no cabelo e a água fria. Tomei banho rezando pra não ter uma hipotermia.


Ainda era cedo mas resolvi que já tinha vivido emoções de mais por um dia. Botei meu pijaminha, puxei meu edredom e fui dormir. Caí no sono e o telefone toca. No fim da conversa, o telefone cai na minha cara. Brigo com o aparelho. Foi quando pude ver que dia era e fiquei tranquila. Não era sexta-feira treze nem nada, mas aquele dia acolhedor chamado véspera de férias.

segunda-feira, 19 de janeiro de 2015

Te esperei a semana inteira, como uma criança espera o natal. Perdi o sono, perdi a calma. Vigiei o telefone, o email, a caixa de correios.Procurei o tom exato dos seus olhos em todos que encontrava pelas ruas. Mas parece que não existe outros olhos como os seus. Intensos assim, profundos assim. 

Esperei o gosto doce do seu beijo, mas tive que me contentar em tomar um sorvete. Contei as horas pra sentir o calor do seu abraço, mesmo estando quente o suficiente para nem pensar em um cobertor.

No dia em que disse que viria, acordei cedo, botei o vestido florido e o perfume de cerejas. Te esperei na janela. Impaciente com o tiquetaquear do relógio. À medida que o tempo passava, eu me desesperava. Bem-me-quer-mal-me-quer. Mais uma margarida despetalada. Tic-tac. Tic-tac. Fiz simpatia pra santo Antônio naqueles minutos intermináveis. Andei de um lado pro outro. Do outro pro um. Nada fazia o tempo passar. Cantei mentalmente todas as músicas que você disse que gostava. De um lado pro outro. Do outro pro um. Nada, nada.


Começo a pensar se se atrasou. Será que esqueceu? De vir ou de mim? De um lado pro outro. Do outro pro um. Na rua, passa um ônibus. O homem não chegou a tempo. Corre gritando o motorista.Tudo em vão. De lado pro outro, do outro pro um. Do outro lado da rua, a senhora me deseja bom dia e me pergunta onde fica uma rua qualquer. 

Tic-tac. Tic-tac. Meia hora de espera. Meus pés doem. Me debruço na janela, esticando a vista ao máximo. Cadê você? Bem-me-quer-mal-me-quer. Mal me quer. Não me quer. Nunca quis.

quarta-feira, 31 de dezembro de 2014

Junto com os primeiros raios de sol daquele dia quente, Nina acordou. Remexeu na cama e, como fazia todos os dias, fez uma lista mental de tudo que deveria fazer.Naquele dia, era como se tivesse uma obrigação de por sua vida nos eixos, deixar os problemas de lado e estar inteiramente feliz. Nina sabia que não era capaz de nada. Ainda deitada na cama, ela fechou os olhos e chorou. Feito criança. 

Lembrou-se de quando tinha 5 anos. A pequena Nina tinha passado o dia correndo e brincando pela casa. Já não se importava com as cascas dos machucados nos joelhos. À noite, cismou que ouviu um som no quarto. Os pais passaram horas tentando acalmar a menina.Todos esses esforços foram em vão: caiu no choro e não houve santo que a fizera parar.Soluçava, se debatia, esperneava, perdia o ar. 20 anos depois, Nina chorava de novo.Assim como naquele dia,sabia que não havia ninguém no mundo capaz de entendê-la.

Respirando fundo e fazendo um esforço surreal, Nina se levantou e tentou ir até a cozinha. Deu um salto e, de galope, voltou para a cama. 

Ela estava mais que acostumada a relevar os erros dos outros. Afinal, todo mundo erra. Aos 25 anos, já havia perdido a conta de quantas lágrimas derramou por conta do descuido, stress e falta de atenção alheios. Mas suas faltas pareciam não ter perdão. Para Nina, tudo isso fazia parte daquela doença chamada amor. Durante um tempo, se considerou curada. Vivia tranquila, sem se importar com as cicatrizes de antes. Mas agora, digeria um novo golpe. Jamais, JAMAIS, pensou que ele poderia magoá-la tanto. Os outros sim, ele não. Nina sentia que o mundo todo ria daquela doce ilusão que criara.

A cabeça doía e Nina finalmente sentiu fome. Comeu qualquer coisa e saiu. Pelas próximas horas, ninguém, nem mesmo ele, saberia de sua dor.   

segunda-feira, 15 de setembro de 2014

Abraço, toque, cheiro e cafuné.
Amor que rola na face,
Mágoa que desce pela garganta.
Mãos, pernas e cabelos.
Não faço ideia do que foi aquele beijo na testa.
A figura já vista paira e para.
Limpa os olhos, finge estar tudo bem.
Deixa a voz do ciúme falar mais alto.
Leia os meus olhos, a cor das minhas bochechas,
Qualquer coisa.
Só não acredite no que dizem meus lábios.
(É que ainda não aprendi a me expor)
Esquece os outros, o álcool, a lágrima e o suor.
Aproveita a noite e se aproveite de nós.

sábado, 12 de julho de 2014

Olha eu, de novo, te procurando em outro.De olhos fechados, chamando seu nome. Não lembro do seu tom de voz, nem ensaio no espelho o que devo te dizer. A mão treme, borboletas dançam. Não é por você. Saliva, toque, pele e cheiro. Era uma vez, nós.
Olha eu, de novo, te procurando num fundo de copo. Perdida, sozinha, vulnerável. Procurei alguém, não você. Ele não tem esse seu encanto no olhar, mas me aninha, me acaricia, me faz cafuné. Me ganha, me perde, me rejeita.
Ah, moço, tenho tanta vontade de te deixar de lado. Te procuro em outro, em todos.Te escrevo outro recado, nada de resposta. Aparentemente, dele também não.Nos procuro em mais um canto, sempre me acho, só.

segunda-feira, 23 de junho de 2014

aviso prévio

Não exige muito de mim
Que eu estou quebrada, ferida, despedaçada.
Entrei numa máquina do tempo
Que me prende nesse dia fatídico.
Entrei num labirinto e não acho a saída
E não há santo que me tire daqui.
Não crie expectativas
Porque o veneno delas é letal.
Não me chame, não me toque, não mencione meu nome

Não quero ser pra você o que ele já foi (e é) pra mim.